segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

REDES SOCIAIS E A BUNDA-MOLEZAÇÃO DO PROTESTO

Este é o Brasil, país de desigualdades, problemas sociais e erros estruturais acachapantes. O que acontece num país desse? Em tese, a população, que é o principal receptáculo de toda a carga de desníveis sociológicos, deveria (e deve) se indignar com estes, procurando SOLUÇÕES e REINVIDICANDO atitudes de qualquer que seja o orgão.

Pois bem. Ouvi falar por diversas vezes que o povo brasileiro é extremamente passivo e que aceita tudo ao seu redor como algo imutável. Concordo, até certo ponto. O brasileiro se revolta, sim. Já houveram diversas insurreições ao longo do nosso existir que nos permitem dizer que não somos objetos de nossa própria realidade. Por mais pueris que sejam as cartas em colunas de jornais, revistas, ou endereçadas ao congresso, pode-se dizer que o brasileiro sabe o que acontece, está por dentro, e se movimenta. Mas a tendência é só piorar.

O fenômeno das redes sociais é sensacional, porém traz consequências bizarras e contraditórias, porque por mais informado que o cidadão esteja, ele vem se distanciando progressivamente do protesto em vias de fato. Hoje, o brasileiro não manda mais cartinhas, ou organiza-se na rua com os seus amigos. Ele assiste ao CQC e depois vai no Twitter ou Facebook, escreve meia dúzias de obviedades e pronto, seu trabalho está feito. Vale lembrar que os Maluf's, Delúbio's, Palloci's e companhias sequer fazem ideia do que é um tweet, e pra eles, atualizar o status é mudar de profissão. E o pior, temos nos limitado a esse sem-número de "político é tudo filho da puta" e "que pouca vergonha essa política brasileira", e mesmo com o cabedal de opções e formas de se articular em prol de um bem comum, nos tornamos os babacas das redes sociais, os HOOLIGANS DOS TECLADOS.

"Como??? Faz alguns meses que houve a marcha da corrupção em vários estados e blá blá blá." Ok, a marcha CONTRA a corrupção foi importante pra mostrar que o JOVEM é consciente dos defeitos da máquina social brasileira, e sou completamente a favor que haja, se possível, todos os dias protestos em praças públicas, câmaras de vereadores ou deputados, avenidas, whatever! Mas, vamos ser sinceros: qual é o respaldo que jovens de 16 a 20 anos promovendo uma revolta pelas ruas tem perante ao poder e a opinião pública? Infelizmente, nenhuma. Primeiro, porque muitos desses não votam. Segundo, porque a imagem do jovem já está muito deturpada com a questão da promiscuidade, e então, na visão desses muitos intelectualóides da nata tupiniquim, as marchas foram meros flashmobs com o objetivo de farrear. E, visto a bagunça que foi em alguns focos de protesto, parece que isso tem um quê de verdade. Nisso, temos de movimentar gente de todas as idades, sexos, cores, crenças, credos, deficiências, medos e pudores para que na heterogeneidade, aconteça uma homogeneidade e uma comoção real.

Queria dar uma palavrinha também sobre o CQC, outro câncer da crítica mundial. Pode até ser um programa bem feito, e admito, eu gostava bastante até a polêmica saída do Rafinha Bastos, mas conceitualmente falando, é uma MERDA. Agora, todo pseudo-preocupado-social neste país quer fazer piada com o dinheiro na cueca, com a conta na Suiça e com o "não vi isso não", e na hora de se mexer para expurgar os corruptos do congresso, não mexe meia nádega. É horroroso ver que política virou motivo de piada por causa desses infelizes, e pelo fato de ter virado piada, esse é o nosso novo jeito de se indignar contra o sistema. NÃO!!! Não é a piada da carteira do Felipe Andreolli que vai parar no bolso do senador que vai fazer com que esse caia do seu cargo ou que perca seus privilégios. Não é a insistência da Mônica Iozzi em perguntar do dinheiro de impostos dirigidos a lobistas a um deputado que vai mudar a história. E o pior, é que o brasileiro aplaude, acha genial, acha que os repórteres do CQC são heróis por fazerem justiça ao zoarem com a cara de um político, enquanto eles só são um punhado de comediantes meia boca lendo um roteiro e do outro lado, o senador "zoado" está lá se divertindo com a sua mansão recém-adquirida em Beverly Hills com economias que seriam repassadas à merenda escolar das escolas públicas. Detalhe, um dos únicos verdadeiramente trangressores naquele programa, o excelente Rafinha Bastos (credito a ele e ao D. Gentilli toda a graça daquele programa), foi execrado, por ser trangressor. "Tem que transgredir, tem que tocar na ferida", diz o programa, e na prática, são um monte de fazedor de média defecando piadas batidas. E no fim das contas, tudo fica no comodismo.

E na mesma leva vai o povo brasileiro, orquestrado por infâmes programas de humor e tirinhas em redes sociais, tornar-se um subversivo online, restringindo-se a piadas e comentários que todo mundo já conhece, e esquecendo de tomar ações de verdade. Jovens vão se tornando adultos bunda-moles, os adultos, em complexo, querem voltar a serem jovens, que estão sendo bunda-mole como eles. E nesse vórtex, ninguém vai a lugar algum. Se nós tivessemos a mesma coragem que temos criticando o dinheiro na cueca para reinvidicar a ida do político/criminoso para uma sauna gay na Indonésia (e nunca mais voltar), talvez este fosse um país melhor. Quanto a gente deixar de ser o verdadeiro motivo da piada, a gente conversa.

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